TRAGÉDIA DA BOATE KISS: Após 7 anos família ainda aguarda por justiça

A paveramense foi uma das 242 vítimas da Tragédia da Boate Kiss.

28/01/2020

Por Clic Paverama | contato@clicpaverama.com.br | Clic do Vale
Em Paverama

Nem com fogo ou a inalação da fumaça. Fernanda Tischer morreu desnucada enquanto tentava fugir do incêndio na Boate Kiss. A pequena queimadura no rosto e os cabelos pretos em função da fumaça mostravam que a moradora de Paverama de 21 anos estava perto da saída quando se tornou vítima da tragédia registrada em janeiro de 2013.

Passados sete anos, o sentimento da mãe Diana Tischer, 52, ainda é de indignação. Para ela, as chamas foram causadas por uma “sucessão de erros” possível de ser evitada e que se repete em festas na atualidade. “Justiça seria uma tragédia como essa nunca mais acontecer”, afirma.

Pelo noticiário, Diana acompanha as manifestações pedindo a celeridade no julgamento dos quatro réus suspeitos de responsabilidade no incêndio. Entretanto prefere não participar das ações. “É triste ver que 242 pessoas morreram e nada foi feito ainda. Mas tento deixar o rancor de lado para seguir a vida”, conta.

(Fernanda Tischer foi uma das 242 vítimas da Tragédia da Boate Kiss. Créditos: Arquivo pessoal)

Morando em Linha Santana, Diana cuida da propriedade leiteira com ajuda da filha Thais, 21. É no quintal da propriedade que costuma se recordar da primogênita. “Um mês antes de morrer, ela disse que queria ser cremada. As cinzas serviriam para adubar o roseiro. Ela adorava rosas”, comenta.

Para a mãe, Fernanda sempre será lembrada como a jovem apaixonada pelo campo que saiu do interior para se tornar veterinária e auxiliar no futuro da propriedade rural. “Infelizmente, ela não voltou mais para casa”, lamenta.

Pedido por Justiça:

Para marcar a passagem dos sete anos da tragédia, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) realizou vigília em memória dos mortos na madrugada de segunda-feira.

Vestindo camisetas estampadas com fotografias dos filhos, o grupo de cerca de cem pessoas percorreu em silêncio os 450 metros da Praça Saldanha Marinho, no centro, até a Rua dos Andradas, em Santa Maria.

Na frente dos escombros da Kiss, pais e mães das vítimas rezaram e prestaram homenagens. Um coração foi pintado no asfalto e iluminado com velas.

Julgamento para março:

Elissandro Spohr, Mauro Hoffmann (sócios da Kiss), Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Leão (vocalista e ajudante da banda Gurizada Fandangueira) são réus no processo criminal que apura as circunstâncias do incêndio na boate Kiss.

Eles respondem por 242 homicídios e por 636 tentativas, com dolo eventual (quando se assume o risco de matar). A definição do local dos julgamentos é o atual entrave paro sequência do processo. Em dezembro de 2019, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça (TJ) atendeu pedido da defesa e decidiu que Spohr, seria julgado em Porto Alegre, em data a ser definida.

Argumento é que a transferência para outra comarca evitaria tumultos e garantiria imparcialidade do júri. Para o dia 16 de março, está marcado o júri dos outros três réus. Eles serão julgados no Centro de Eventos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), às 10h.

Texto e foto: Fábio Kuhn, Jornal A Hora