Meio Ambiente e Sustentabilidade por Márcio Silva do Amaral
Queimadas
Agosto de 2020, Mato Grosso do Sul, 65% deste estado abriga uma das maiores planícies alagadas do mundo: o Pantanal, com cerca de 250 mil km quadrados. Um dos seis biomas do Brasil.
Somente em julho, foram mais de 1.600 focos de incêndio de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). De acordo com bombeiros que ainda lutam contra as queimadas, já foram destruídos 815 mil hectares de vegitação. Estamos em outubro, e o quadro continua piorando.
O fogo lembra uma tempestade avassaladora. Centenas de focos de incêndio tem consumido esse patrimônio natural da humanidade. Ao menos 10% de toda a cobertura vegetal já foi destruída.
Um dos bombeiros que lutam sem chance contra as queimadas disse: “é triste né, porque os animais sofrem, toda a vegetação fica arrasada e a gente vai trabalhando pontualmente nos focos de incêndio e fazendo combate de formiguinha”.
É chocante ver toda aquela diversidade de fauna e flora sendo destruída. Embora não se saiba exatamente a causa ou origem dos focos de incêndios, será possível ver no futuro próximo boa parte dessas áreas destruídas pelo fogo cobertas por milhares de hectares de plantações de soja, milho, algodão ou outras culturas.
De longe as queimadas não são um problema apenas do Pantanal. Em diversas partes deste imenso Brasil as queimadas são usadas frequentemente como meio fácil de limpeza. Em Taquari e Paverama onde ando com frequência não é difícil ver queimadas usadas para limpar a galhada depois do corte de mato ou com outros objetivos. Claro que essas queimadas não possuem as dimensões pantaneiras. Mas é preciso lembrar que as queimadas vão além da queima simples de resíduos resultante do corte do mato ou simplesmente para “limpar o campo”. O fogo acaba destruindo também os microorganismos que realizam a decomposição da matéria orgânica e promovem a reciclagem dos nutrientes necessários às plantas. A perda de matéria orgânica deixa o solo mais exposto à erosão e à ação das chuvas, acentuando o seu empobrecimento.
E não para por aí, segundo o site Só Biologia, “as queimadas também liberam na atmosfera gases que, quando em concentração muito elevada, prejudicam a saúde humana. Além disso, nos casos em que a queimada é realizada de forma não controlada, ela pode se alastrar por áreas de proteção ambiental”.
É verdade que essa prática talvez seja usada a centenas de anos. Alguns talvez até digam que sempre fizeram isso e continuam com suas terras produtivas. No entanto, as mudanças provocadas também pelos efeitos das queimadas são gradativas e ocorrem no decorrer de décadas ou séculos. Não podemos ver as queimadas como algo normal. É verdade que em algumas regiões as queimadas são até necessárias para o ecossistema. É o caso do bioma cerrado. No entanto, os organismos que compõem as comunidades desses ambientes apresentam adaptações para enfrentar o fogo e até mesmo tirar proveito dele. Não é nosso caso aqui no Sul. Embora venha alguma vegetação após a queimada, ou “pastinho novo prô gado” como alguns dizem, uma parte da camada orgânica do solo foi perdida. Até porque, a queimada não é feita apenas uma vez.
A queima de matéria orgânica produz gás carbônico, monóxido de carbono, óxidos nitrosos, hidrocarbonetos e material particulado. As queimadas causam danos à saúde das pessoas.
Vimos vários incêndios que ocorreram em Paverama no período da estiagem 2019/2020. Segundo a redação do site Clic Paverama, somente no 1° semestre, Bombeiros atenderam 37 ocorrências em Paverama sendo a maioria no interior do município.
Muitos deles provocados por pessoas que queriam “limpar o campo” e perderam o controle do fogo. Felizmente não houveram feridos. Mas houve prejuízos na fauna e na flora. Em alguns casos alguns até houve prejuízo financeiro em decorrência de áreas com eucaliptos que foram queimadas pelas chamas sem controle.
Não sou contra as queimadas, ela pode ser boa ferramenta se for usada de forma controlada. Ao eliminar a matéria seca excedente, resultante de pastagens, campos de cultivo e corte de mato, a queimada controlada favorece a rebrota e a germinação de sementes.
Mesmo assim, a queimada controlada só deve ser realizada em áreas definidas, com isolamento prévio sob supervisão técnica de um gestor ambiental. A queimada sem licença do órgão ambiental é tida como incêndio criminoso e é punida pela Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) com pena de um a quatro anos de reclusão. Por isso, antes de fazer uma queimada, o produtor rural deve providenciar a sua licença na prefeitura municipal.