Depois de 10 livros escritos, sendo 8 publicados, 2 em andamento e participação escrevendo um capítulo em outros 3, acho que consegui uma certa expertise nesse segmento, não à toa, muita gente vem me perguntar como é para escrever um livro.

Ao todo eu passei dos 8 mil livros vendidos, mas não fiquei rico com isso, podem ter certeza, entretanto, o livro lhe dá uma credibilidade muito alta, não é fácil escrever um livro. Primeiro, porque é preciso de tempo e muita pesquisa, mas quando o livro está pronto, impresso e você o recebe em sua casa, a felicidade é difícil de reproduzir em palavras, assim como a noite dos autógrafos, outro momento mágico.

Infelizmente a média do brasileiro para ler um livro é muito abaixo. Uma pesquisa de 2022,  “Retratos da leitura no Brasil”, cerca de 52% dos brasileiros têm esse hábito. Os números podem parecer positivos, mas o país perdeu cerca de 4,6 milhões de leitores nos últimos anos. Em uma comparação média com outros países, o brasileiro costuma ler somente cerca de quatro livros por ano, enquanto o canadense lê 12, o que indica um índice de leitura bem abaixo da média, já o Europeu lê 21 livros ao ano, ou seja, o Brasil está muito atrás de outros países, isso se deve, basicamente, ao meu ver, por dois motivos: cultura e clima.

Na Europa, ler é um hábito que as escolas trazem desde cedo. Um grande amigo meu, mora na Alemanha. Na escola dos filhos há uma competição de leitura, os alunos precisam ler os livros e responder algumas questões, isso lhes dá pontos e no fim do ano os que mais tem pontos, ganham prêmios como trofeu ou algum voucher para o cinema, o filho do meu amigo, de 12 anos, em 2021, ficou em 2o lugar no ranking, com 110 livros lidos… aqui no Brasil, para uma criança ler um livro é uma guerra.

Dica 01: amor no que faz

Em um primeiro momento, posso dizer que é uma experiencia enriquecedora, eu recomendo à todos isso. É muito gratificante quando você vê seu livro em uma livraria perto da sua casa, ou quando se é marcado no Instagram por alguém que está lendo e gostando do material que você escreveu.

Aqui a dica é: tenha prazer no que você vai escrever, e logicamente, escreva algo que você domine. Não tente escrever algo que você conheça pouco, achando que com chatGPT ou Google Bard você vai conseguir, as pessoas percebem quando o autor não tem a menor ideia do que está escrevendo. Eu comprei um livro uma vez, onde na primeira página o autor fez um texto bem agressivo sobre as pessoas copiarem algo do seu livro, na página seguinte, ele copiou uma famosa frase de Al Ries sem dar o devido crédito, o livro começava com hipocrisia, ao ler o livro, fui lendo capítulos curtos e vazios, parecia mais um trabalho de escola. Eu li 60% do livro, parei, e joguei no lixo, pois nem para doar o livro ele servia. O leitor descobre rápido a fraude.

Dica 02: disciplina

A segunda dica que posso dar é você ter muita disciplina. Se você se programou escrever um determinado número de páginas naquela semana, não importa o que aconteça, apenas escreva, coloque as ideias no papel, não deixe para a semana que vem, pois na semana que vem, além de acumular páginas, o tempo poderá ser mais curto. Ache meios.

Eu, por exemplo, me locomovo pela cidade de metrô, fico pelo menos 1h30 dentro dos vagões entre ida e volta para os locais onde eu trabalho, é um tempo que dedico para escrever livros e artigos, como esse. Eu pesquiso temas, coloco no bloco de notas do celular e vou trabalhando o texto em torno da referencia pesquisada na internet. É uma dica, siga da forma que você achar melhor.

Dica 03: para escrever bem, é preciso ler muito

A terceira dica, talvez a mais importante, é você  ler muito, mas quando eu digo muito, é muito. Não ache que ler um livro por mês é muito. Leia sites, newsletters, estudos, cases da área. Isso não serve apenas para livros de marketing, serve para todos os segmentos, se você quer escrever um livro sobre medicina alternativa, por exemplo, leia muito, ouça profissionais da área, baixe e-books.

Leia muito antes de escrever uma página. Tenha plena certeza do que você está falando, afinal, se o seu livro for um sucesso, milhares de pessoas vão ler e entender aquilo como uma verdade.

Meu pai sempre me disse, quanto mais se lê, melhor se escreve. Leia tudo, até bula de remédio se não tiver o que ler, ele sempre dizia isso para mim, e diz o mesmo para a minha filha hoje. O conhecimento é algo que ninguém tira de nós, aliás, gostei de uma recente frase que ouvi do Walter Longo, “conhecimento é a única coisa que quando se divide, ele se multiplica” e escrever um livro é compartilhar o seu aprendizado com outras pessoas.

Dica 04: pesquisa de fontes confiáveis

Essas fontes acima citadas, precisam ser de muita credibilidade. Essa é a quarta dica. Cuidado com o que se lê na internet. Por exemplo, você está escrevendo um livro sobre a história da rádio, e pesquisa nos sites das principais rádios do país ou ouve um Milton Neves falando do tema, é algo de altíssima credibilidade, agora, ter como fonte uma frase de um blog, nem sempre pode ser algo que vai agregar, ao contrário, pode denegrir a imagem do seu livro, hoje, com a internet qualquer frase é jogada no Google e se descobre a origem, portanto, fonte quando usada é obrigatório citar de onde você tirou aquela informação, até para se proteger.

Certa vez, eu escrevi no meu blog uma informação sobre um importante varejista de moda esportiva. Em menos de 1 hora, recebi um email do time de marketing do varejista contestando uma informação que eu havia publicado no blog. Não era nada que poderiam me processar, era apenas um dado que eles não tinham, na hora, eu enviei o link do site que havia publicado o dado, entenderam que eu tinha sido enganado com o dado por um outro site, eu deveria ter checado a credibilidade desse site, confesso. No mesmo dia o site retirou a matéria e eu mudei o parágrafo em que havia um dado errado.

Dica 05: comece pelo índice

Em quinto, não menos importante, é preciso entender que escrever um livro é uma grande responsabilidade e com isso, precisa ter muita disciplina e confiança no que você está escrevendo, fiz esse breve resumo para reforçar, mas a quinta dica é organizar. Comece pelo índice. Perca alguns dias, isso mesmo dias, nessa parte do livro.

Veja como outros autores do seu segmento organizam o livro, use como exemplos, mas crie o seu. O livro precisa ter a sua personalidade. Se você é uma pessoa mais extrovertida, não se limite a colocar tons de humor que estejam dentro da sua linha de comunicação, mas se você é uma pessoa mais séria, o humor pode soar como algo que não o representa, eu não indico isso, portanto, quando estiver montando o índice já pense em como serão os capítulos e sub capítulos levando na sua linha, eu, por exemplo, gosto de provocar o mercado, por isso, alguns dos sub capítulos dos meus livros são textos provocativos de reflexão para o mercado.

O índice cria uma espinha dorsal muito importante para seguir o seu caminho. Costumo dizer que é criar uma linha de caixinhas (capítulo e sub capítulos) e depois preencher essas caixinhas com os textos, mas que sejam texto coesos por favor, como disse acima, o leitor descobre quando o autor está perdido no que escreve.

Dica extra!

Não se preocupe com os erros gramaticais e de concordância. Nunca o quem escreve, é quem revisa. Nosso olhar fica viciado e os erros passam, entretanto, saiba que o seu livro não vai para as livrarias sem revisão. Algumas editoras fazem até 5 revisões, com 5 pessoas diferentes, o que acaba atrasando o lançamento do livro, mas vale a pena, afinal, o livro sai sem nenhum erro de concordância, o que é comum ter, afinal, você escreve o livro ao longo de alguns meses e isso faz com que você escreva de forma diferente em cada parte do livro.

Fechando com uma editora grande, você não apenas garante uma grande divulgação e distruibuição, mas também uma estrutura muito interessante para o seu livro, com revisores, diagramadores e diretores de arte para as capas, especialistas nesse assunto, que sabem como as pessoas pesquisam os livros nas livrarias.

Escrever um livro é algo muito interessante para a sua vida, faça, mas faça com muita calma e muito carinho, pois é algo que ficará para a eternidade, daqui 80 anos, eu não estarei mais aqui nesse plano, mas em algum sebo por esse Brasil, as pessoas acharam o meu livro.

Felipe Morais (@plannerfelipe) é professor e coordenador do MBA de Gestão Estratégica de Ecommerce. Palestrante, autor de livros sobre planejamento digital e e-commerce, já atuou em empresas como Nova.com, Giuliana Flores, DellaVia Pneus, Moda em Atacado. Atualmente é gerente de marketing e e-commerce da Dezak.

Site: www.felipemorais.com