Psico-Socializando por Henrique Weber

A criança que provou que 0 + 0 = 1

Muitos de nós evitamos pessoas que nos fazem muitas perguntas. Costumamos repelir alguém que está buscando respostas de maneira obcecada, como fazem os filósofos ou cientistas. Nós não nos ocupamos dessas pessoas porque nos convoca a pensar, a entrar em contato com aquilo que não sabemos, com a nossa ignorância diante do mundo ou nos desacomoda dentro do nosso ego onisciente. Nem sempre estamos dispostos a enfrentar as perguntas. Mas, o que seria da humanidade se não fossem as perguntas (que nos tira da zona de conforto), uma após a outra, até chegar numa conclusão lógica? E quando as perguntas são formuladas por uma criança, o adulto pode até se surpreender, mas não dá a merecida atenção, talvez porque associe a infância com a fantasia. Acredito que uma boa dose de fantasia é necessária para as descobertas científicas, mas aqui, quero expor um dilema lógico-matemático de uma criança que tentava provar que 0 + 0 = 1. Essa criança era eu!

Estou lendo o livro do grande filósofo Bertrand Russel, chamado “História do Pensamento Ocidental”. Nascido em País de Gales no ano de 1872, ele foi matemático, filósofo e historiador, foi de uma tradição chamada Filosofia Analítica. Partindo da lógica, sustentou que todas as verdades matemáticas poderiam ser deduzidas a partir de umas poucas verdades lógicas, e todos os conceitos matemáticos reduzidos a uns poucos conceitos lógicos primitivos (site Wikipedia). Neste livro, Russel está revisitando os conceitos dos gregos e fazendo associações com as verdades científicas (no campo das exatas e das humanas) dos dias de hoje. Ou seja, os gregos, há 500 anos antes de Cristo, já falavam coisas que para nós hoje são atuais. Na parte da matemática, ele cita a escola de Pitágoras, e ao falar do Zero, eu lembrei do meu dilema. Na infância isto ocorreu, eu me deparei com uma questão: 0 + 0 é igual a 1? Eu comecei a questionar os adultos (passei algum tempo questionando-os). Eu colocava uma mão fechada para simbolizar o zero, somava com mais uma mão fechada, e contava as mãos: “zero...um”. A matemática era simples e concreta assim como é a inteligência da criança, assim quando tudo começou  com os gregos. O método era contar nos dedos. Podemos questionar, não havia dedos nesta conta. Ok. Mas, a questão está na série que se instalava. Hoje, estou eu aqui, para prestar contas com o meu passado, após compreender que aquela criança que era eu, estava certo em seu intento.

Russerl nos conta que no início das descobertas matemáticas, o número era representado por um ponto, os números inteiros. Depois, foi surgindo a fração através do conhecimento das notas musicais e de diversas hipóteses sobre a geometria, e uma filosofia que pensava que dividindo uma fração, nós encontraríamos o todo em cada parte fracionada. Assim, se fizermos muitas divisões, sucessivamente, logo chegaremos ao número irracional. Sobre o zero, Russerl coloca (página 121), “reconhece-se o zero como sendo o começo da série de números, em vez da unidade”, gerando uma linha, uma série, que segue em movimento (1,2,3,4, até o infinito). Se somarmos 0+0, eu estou implicando uma série, pois somar é agregar, é unir. E ao fazer isto, ao agregar algo (o zero) que existe, eu coloco algo em movimento. Se o zero é o nada, ao colocar uma série 0+0+0+0+0... infinitamente, o seu resultado final é algo que se moveu nesta série, e não pode ser igual ao nada. Assim, deve ser algo diferente de zero. Então, esta conta pode ser 0,001 ou 0,000000000001, qual seja, não importa, algo tão ínfimo (invisível aos olhos), e próximo de zero, mas que é diferente de zero. Para o pensamento de Heráclito de Éfeso cujas ideias eu tive acesso na 8ª série, tudo se move, flui como um rio, tudo é movimento e nada pode permanecer parado. Nada permanece imóvel e todas as coisas são processos. Assim, ao incluir uma soma de números zeros, eu gero um processo que muda o estado original da coisa. Na infância eu entendi assim, apesar de não poder explicar. Este “1” não corresponde a um inteiro, mas a algo que é diferente de zero, é isto que representa.

Para o pai da psicanálise, Sigmund Freud, o brincar da criança é determinado pelos desejos. Mais um em especial conduz a brincadeira e a fantasia: o desejo de ser grande, de ser adulto. A criança está sempre imitando os adultos em suas brincadeiras. A relação da fantasia com o desejo flutua entre os três tempos que conhecemos, o passado, o presente e o futuro, que estão entrelaçados pelo fio do desejo que os une. Assim, uma ideia poderosa nasce da experiência do presente, mas que traz uma lembrança vívida do passado (geralmente da infância) e que leva a pessoa a realizar no futuro, através por exemplo, de um evento tecnológico ou uma obra literária. Sabemos da ligação das fantasias dos filmes de ficção científica com a possibilidade de realizar o invento na vida real. A vontade da criança de alcançar as estrelas, de descobrir o que tem na Lua.

O que une a minha história do 0+0=1 e o livro “História do Pensamento Ocidental” é o meu desejo de ser grande, de ser inteligente. Naquele momento, eu desafiava o adulto tentando provar algo que estava para além do que conseguíamos enxergar, as verdades consagradas. Este traço infantil, talvez, se atualiza hoje na busca por este livro para entrar na Cultura Ocidental e ter um domínio da verdade, do conhecimento, das ideias construídas do mundo.

 Ok! Você deve estar pensando que eu sou um louco e que o resultado 0+0 é errado, mas e o raciocínio... você concorda? Vocês me acham louco? Pra contribuir ainda com esta questão, vale lembrar que Heráclito defendia “que uma coisa ‘é’ e ‘não é’ ao mesmo tempo” (página 40 - Russel), quando ele pensava na relação da matéria com o espaço vazio. Enquanto um é, o outro não é. Porém, na física quântica, o passado, o presente e o futuro podem estar num único lugar, justificando a frase de Heráclito. Então, meus amigos do saber, 0+0 é ou não é igual a 1?

Psicólogo clínico: Atendimento Presencial e online. Palestras.

Centro Multiprofissional:

Rua Dom Pedro II, 2266 – Canabarro – Teutônia, (51) 3762-8077

(51) 3762-8070

Facebook: Henrique Weber