Hora da Saúde Mental por Marina Souto Ferreira

Distanciamento entre pais e filhos. O que acontece? Como podemos melhorar?

Quando falamos de relações humanas, é importante pensarmos em um contexto biopsicossocial, isso quer dizer que cada pessoa possui de forma única, características biológicas, emocionais e uma história de vida, fatores que vão influenciar diretamente na forma como nos relacionamos.

As relações familiares, são por vezes as mais intensas e complexa, divido ao tempo de convivência e os papeis estabelecidos no ambiente familiar. A aproximação e o distanciamento são construídos com o passar do tempo e das vivências. Quando me refiro em construção, quero dizer que tudo que fazemos nessa relação terá uma consequência, podendo ser favorável ou não.

A relação entre pais e filhos começa ainda antes do nascimento, quando este filho é desejado, esperado e querido pelos pais, ou também quando passam a saber da gestação. Nos deparamos com uma ideia do que seria esse filho ideal e nossos pais ideais, porém temos que encarar nossos filhos reais, e nossos pais reais, como realmente são. Além disso, é importante como estes pais reagem com a notícia da gestação e como é a relação entre estes pais.

Neste período gestacional a criança já se encontra vivenciando as relações familiares, consegue perceber os sons e as emoções da mãe.

Os primeiros anos de vida da criança são fundamentais para um bom desenvolvimento humano. A criança por si só é curiosa e cabe o adulto orientar nesse conhecimento em relação ao mundo, que por vezes a criança não possui maturidade cerebral para perceber as consequências de seus atos como também de resolução de problemas.

A partir do momento em que nos tornamos parceiro de jogo da criança, passamos a construir junto com ela uma relação de parceria na vida. Nos tornamos parceiro de jogo, quando interagimos com a criança e ela nos aceita na brincadeira, ela realiza comandos e aceita comandos, quando somos interessantes para a criança, quando ela nos olha e busca a gente para continuarmos a brincar e fazer repetidamente a mesma coisa. Algo extremamente satisfatório e divertido para todos.

Quando esta criança cresce, começam aparecer dilemas sociais, mudanças hormonais, e é comum na adolescência o distanciamento da família e a aproximação dos amigos. Estes se tornam a referência nesse momento, cabendo aos adultos orientar quando necessário. Adolescentes costumam questionar muito, mas ainda não conseguem pensar nas consequências de seus atos de forma responsável. O problema é que podemos exigir deles uma maturidade que ainda não é possível, e então ocorrem discussões e ressentimentos. Acredito que uma boa alternativa é ser tão questionador quanto o adolescente, ele tende a se perder no raciocínio e cair em contradições, nesse momento você pode colocar o seu ponto de vista, gerando reflexão. Assim ele pode aceitar com mais facilidade suas opiniões e repensar seus comportamentos e ações.

Com uma rotina intensa de trabalho e um mercado de trabalho exigente, assim como preocupações sobre necessidades básicas de como fazer para pagar as contas, como enfrentar os dilemas no trabalho, os pais passam muito tempo trabalhando, tentando resolver problemas e estressados com tudo isso. Não tendo por vezes o tempo, paciência e a disposição necessária para esse contato com os filhos.  É compreensível tudo isso, a final são preocupações necessárias, mas, pode aumentar o distanciamento familiar.

Não paramos para perceber que a forma como construímos a relação com nossos filhos irá refletir quando estivermos mais velhos e precisaremos de cuidado, paciência, tempo e atenção.

Bom, esse é o ciclo da vida. Contra isso não há muito o que fazer. Somos responsáveis por nossos filhos, depois passamos a ser responsabilidade deles.

A pergunta é: Como estamos nos relacionando com nossas crianças? Será que é compatível com a relação que desejamos para nosso futuro com eles?

Trago sugestões do que é possível fazer para melhorar as relações familiares.

  • Estar presente com seu filho, brinque, jogue, demonstrando interesse sobre o que ele tem a dizer, suas curiosidades, novidades, dilemas e aventuras. Ele precisa saber que pode contar com você para qualquer situação, deixará ele seguro para ser que ele é, permitirá que você tome as decisões necessárias, sabendo exatamente o que está acontecendo.
  • Diminuição do uso de telas. Estar no mesmo espaço, não significa estar junto. As telas nos dão satisfação, mas não fazem bem. Tenha cuidado nesse uso, tanto para você, como para seu filho.
  • Lembre-se de como você era, o que fazia, e como foi para você viver a idade que seu filho está vivendo. Refletir sobre isso possibilita a empatia e a troca de experiência entre vocês.
  • Invista em criar tradições familiares. Como por exemplo: ir no mesmo lugar comer em eventos comemorativos, fazer o dia do cinema em casa. A ideia aqui é ser criativo, e fazer o melhor possível com aquilo que se tem no momento.
  • Elogie o seu filho. Em uma cultura de muitas exigências, podemos passar a acreditar que por meio de críticas e insultos tornaremos o nosso filho mais forte. Porém, isso é um equívoco. Pois ele pode passar a olhar somente para aquilo que ele não consegue fazer, se exigindo muito, não valorizando suas conquistas, nem aquilo que há de bom em sua vida, gerando frustrações, ansiedade, depressão. Que podem refletir em todos os quesitos da vida dele quando adulto.

Não há receita de bolo, nem certo e errado quando se trata da educação de nossos filhos, fazemos o melhor que podemos, e com as melhores intenções. Aqui são sugestões, para gerar reflexão a respeito da relação familiar, o que estamos construindo hoje com nossas crianças e o que esperamos do futuro das relações familiares. Criar boas memórias com certeza é a melhor dica aqui.

Com amor,

Marina.

Formada em psicologia em 2019 Marina realizou especializações em Saúde Mental e Atenção Psicossocial, Educação Especial e Avaliação Psicológica e atualmente se dedica aos estudos da Neuropsicologia e ABA aplicada para o Transtorno do Espectro Autista e Deficiência Intelectual. Tem experiência também no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e  com atendimentos clínicos para diversos públicos, em especial para Transtornos do Neurodesenvolvimento.

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